terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quarta- feira, 13 de Outubro de 2010 às 22h06m31s.
Celular - Ônibus 675 - Via Swift

Era noite.
Ele estava com seus doze anos e seu moletom vermelho velho.
O pai, já um senhor de idade avançada e cabelos grisalhos, dirigia tranquilamente para casa.
A mãe e a irmã menos também estavam no carro.
Costumavam ficar quietos, os poucos diálogos acabavam rápido.
Voltavam da casa da tia, que estava de cama, fraquezas por causa da idade, foram visitá-la e levar pães e frutas. Típica coisa que as avós fazem, o que era de fato o que sua velha mãe fazia.
Ela tivera filhos numa idade em que ninguém acreditava que ela ainda pudesse conceber uma criança, muito menos duas.
Eram uma família simples. Tinham o que precisavam, sem luxo.

Ele olhava pela janela do carro em movimento.
As luzes da cidade.
Nuvens baixas, tinha chovido.
Sujeira.
Poucas pessoas, era tarde.
Ele pensava em como seria ter outra vida, outra família...
Gostava da sua, mas sempre se sentia deslocado entre eles.
Ele tinha sonhos, grandes ambições, diferente de seus pais.
Abria a bala que tinha pego na casa da sua tia enquanto o pai parava em um semáfaro.
Viu num ponto de ônibus um rapaz, vestia-se elegante, bela jaqueta e sapatos.
Tinha uma pasta que lhe caia dos ombros na lateral do corpo. Fumava.
O garoto observava a postura, o corte de cabelo, as cores das roupas harmoniozamente combinando com a pasta e o sapato.
Viu a ele mesmo.

Dez anos depois a irmã não sabia mais quem era aquele que visitava ela e os pais uma vez por mês.
Tinha um olhar despreocupado, fumava na varanda, mal falava com a família, era frio.
Ele tinha um apartamento no centro sujo da cidade, mas ela nunca o visitara, nunca fora convidada.
Trabalhava num escritório de alguma coisa, talvez estudasse, e ouviu dizer que até falava outras línguas agora.
Era um desconhecido que não sentava no sofa 'para não amassar a calça risca de giz' dizia ele, e ela nem ao menos fazia idéia do que era uma "risca de giz".
Há muito tempo ele não era mais aquele seu irmão de antes.
Mas aquele que estava no ponto de ônibus naquela noite mudou sua vida. Era ele no futuro.

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