Ela estava no ônibus. Voltava do trabalho exausta. Ainda não era sexta-feira, lembrou.
Checou as horas 18h14min. Tarde.
Passava pelas pessoas no ônibus lotado, suas costas doendo por causa da barriga já grande, pensou que poderia sentar-se, parou ao lado de uma moça sentada com um fichário. No mesmo instante a moça se levantou e ofereceu-lhe o lugar.
Ela deu um sorriso fraco e agradeceu. Sentou-se poucos segundos antes do ônibus sair da plataforma.
O ônibus andou menos de dois metros e parou para que subisse uma atrasada. A atrasada entrou rápido, ela olhou pra ver a cara da atrasada, a atrasada acenou, era uma conhecida d bairro. Era só o que faltava.
A colega se achegou animada perguntou:
-Como estão as coisas?
Ela sorriu novamente sem querer sorrir, e disse:
-Estou cada dia mais cansada por causa do tamanho da barriga, mas está tudo bem.
A colega se empolgou e perguntou:
-E o bebê?
-Tá aqui.
Foi tudo que ela disse.
A colega perguntou:
-E aí fez outro ultrassom?
-Não, pra quê? Só com o primeiro já soube o que eu não queria saber.
Ela emburrou-se de vez.
A colega ficou confusa:
-O quê foi? O bebê não está bem?
-Ué, é outro menino. De novo, o terceiro. Meu marido ficou feliz, mas eu quero uma menina.
-Ah, mas vai ser tudo de bom.
A colega fica um pouco desconfortável, tenta dizer alguma coisa sem dizer nada.
Ela finalizou a conversa:
-Não vai. Bom quando nascer minha menina. Vou tentando...
O resto do caminho até o bairro seguiu-se no silêncio.
d^.^b: Más - Nelly Furtado.
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