Há um ano
terça-feira, 7 de junho de 2011
Ela acordou assustada novamente. Sentou-se rápido na cama e observou o quarto. Da janela entreaberta vinha o vento gelado da manhã de inverno. Na cama, sua pequena filha, Lavinia, ainda dormia e o espaço do marido, ao lado da pequena, estava vago. Não sabia ao certo se ele havia chegado na noite anterior. Como era de costume, sempre chegava muito tarde, quando a menina já estava na cama, mas desta vez, ela adormeceu junto com a filha.
O medo que lhe assombrava todos os dias percorreu-lhe o corpo, quando ela levantou-se da cama. Vestiu uma blusa velha que pendurará na cabeceira antes de deitar e atravessou o minúsculo quarto e saiu para cozinha, que também era a sala.
Ele estava lá, sentado numa cadeira na mesa da cozinha com o copo de vodka pela metade a frente. Pela situação dele, deveria ter dormido pouco, ou talvez nem dormido ainda, por estar acordado às seis da manhã. Antes que ela concluísse esse pensamento, ele já tinha se levantado da cadeira e agarrado em seu braço. Apertou com força o braço dela, puxando a mais pra perto dele, perguntando o porquê dela não ter o esperado para jantar na noite anterior e completou dizendo que ele estava a esperando desde quando chegará.
O cheiro forte do álcool deixou a com tontura. Ele, ao perceber que ela estava ainda calada, gritou novamente a pergunta. Ela disse algo como estava cansada ou era tarde, mas ele não ouviu. Deu-lhe um tapa que derrubou a no chão frio da cozinha. Levantou a mulher fraca e zonza do chão pelo braço que já estava levemente arroxeado e deu-lhe uma série de sopapos.
Ela apenas chorou como todos os dias em que apanhava. A pequena Lavinia apareceu na porta entre o quarto e a cozinha. Olhou a mãe caindo no chão, ela já sabia o que acontecerá, depois subiu os olhos cheios de lágrimas para o rosto do pai, a face dele queimava, cheia de fúria.
Sem reparar que a menina estava observando a cena, ele jogou a panela de arroz de ontem na mulher deitada no chão, seguida do resto de vodka do copo que antes bebia. Foi então que viu a menina.
Explicou para Lavinia, ainda em voz bem alta, que era isso que acontecia com esposas que não eram boas para seus maridos, que não lhes davam comida quente e que não os esperava para o jantar. O marido entrou no quarto, pegou uma roupa qualquer no guarda roupas e jogou aos pés da menina junto com uma bolsa e uma mochila pequena de pré-escola.
Empurrou a menina para poder bater a porta e disse que precisava descansar.
A menina continuou parada, olhando para a mãe que se levantava enxugando as lágrimas.
A mulher foi firme com a menina e ordenou que ela recolhesse o arroz enquanto ela ia tomar banho, para que não se atrasassem para o trabalho e a escolinha.
Obedientemente e sem dizer nem uma palavra a menina ia recolhendo o arroz e colocando de volta à panela enquanto a mãe colocava as roupas de Lavinia numa cadeira e levava as dela para o banheiro.
Ao sair do banho a mãe colocou uma fatia de pão de forma e uma garrafinha de suco na mochila de Lavinia, e chamou a para saírem. A menina já estava trocada e arrumada para ir.
Ao colocar o cadeado no portão a mãe sentiu que Lavinia grudava em suas pernas e a abraçava muito forte. Ao aproximar seu rosto ao rosto de Lavinia, a menina pôde ver as manchas roxas no rosto da mãe e desabou em choro. A mãe carregou a menina e acalmou a antes de entrar no ônibus.
Chegando à rodoviária, antes de pegar o segundo ônibus para a escola em que a mãe trabalhava e Lavinia estudava ainda na creche, a mulher foi até a lanchonete.
Comprou mais um maço de cigarros, uma latinha de cerveja e um chocolate.
Pensou que devido a esta compra matinal ficaria sem dinheiro para o almoço, mas não tinha muita certeza de que estaria viva até lá, então deu o chocolate pra Lavinia, acendeu um cigarro e depois de o tragar uma vez abriu a latinha de cerveja.
Então foram se sentar num banco da rodoviária e esperar um ônibus para começar o dia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Muitoo bom... fiquei assim O.O'
Você que fez? é real?
Postar um comentário