quinta-feira, 16 de setembro de 2010



Por volta de oito horas da noite.
Ela subia de elevador pensando o quão cansada estava. Mal se lembrava que dia da semana era. Voltava pra casa após um longo dia de trabalho, já tinha ido ao curso também, por isso chegava tão tarde.
Abrindo a porta do pequeno apartamento pensou que ele já estaria em casa.
Entrou silenciosamente, ele não estava na sala, nem na cozinha e nem no perímetro que seus olhos podiam percorrer do hall de entrada. Ia declarar sua chegada quando viu a porta de correr da varanda entreaberta.
Ela atravessou a sala silenciosamente e sentou-se numa das poltronas da sala que davam de frente com a sacada, ainda com a bolsa nos braços, relaxou por um momento e observou-o.
Ele acabara de ascender um cigarro. Estava apoiado no parapeito da varanda olhando ao longe. Parecia extremamente desligado do mundo, olhava, mas de certo não via nada. Por sua pose de apoio e pelo seu jeito confortável ela imaginava que ele não pensava em nada, apenas aproveitava o cigarro.
Ali, sentada, admirando-o, não conseguia se lembrar há quanto tempo estavam casados, nem há quanto tempo suas vidas estavam naquela rotina incessável de trabalhar, estudar, dormir, nas míseras folgas, visitar mães e parentes. Há quanto tempo ela não parava assim pra olhar pra ele, pra admirá-lo.
Ele deveria ter chego tarde também, ainda usava a roupa do trabalho, a camisa social branca, a calça preta e o sapato, o cabelo estava levemente desarrumado, como no final de qualquer dia. Ele poderia ter fumado por volta de trinta cigarros já, mas ela não se importava mais. No começo do namoro pegava no pé dele e odiava esse maldito vício, hoje, ela aprendeu a respeitá-lo e ele a ela, pois não a incomodava com o cigarro.
Ele tragava calmamente o cigarro, depois soltava a fumaça, que subia leve no ar.
Ela não se lembrava da última vez que o vira tão lindo.
Era o amor da vida dela, que agora se debruçava na varanda e relaxava pouco mais as costas.
Ela observava todos os traços do corpo dele, cada detalhe, memorizava cada milímetro, era como se fosse a primeira vez que o via após um longo tempo distante. Mas moravam na mesma casa, viam-se todos os dias.
Ela se perguntava onde ela estava quando ele adquiriu esse ar adulto e maduro, e porque ela nunca tinha reparado que ele tinha ficado muito mais charmoso e bonito.
Ela estava na mesma posição desde o momento em que se sentara na poltrona, com o rosto apoiado nas mãos, os braços apoiados sobre os joelhos, a bolsa entre ela e os braços, o olhar apaixonado fixo nele.
Ele apaga o fim do cigarro no cinzeiro da varanda, espreguiçasse, estica as costas e se dirige à porta.
Ele entra na sala e se surpreende ao vê-la ali, sentada e quieta.
Começa um diálogo com a frase: “Oi! Não percebi que tinha chego! Você não me chamou. Entrou quietinha? Você disse oi?...”.
Parou e percebeu a. Ela ainda o olhava silenciosamente, com um olhar de encanto e desejo. Era um olhar apaixonado.
Ele sorriu.
Levantou o rosto dela entre as mãos e tocou de leve seus lábios nos dela. Ela sorriu.
Ele beijou a delicadamente ainda com o rosto dela entre as mãos.
{Eu te amo} Mas ela apenas pensou. Nada disse.
Apenas suspirou profundamente ao fim do beijo.

Um comentário:

Ele disse...

Você deveria escrever um livro...